A biopirataria é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro, ficando atrás apenas do tráfico de armas e drogas. Trata-se basicamente do tráfico de animais, plantas, sementes para diversos fins, como a manipulaçao de remédios a partir de substâncias neles presentes, além da domesticação desses animais. Devido a nossa imensa biodiversidade, o Brasil é um dos maiores alvos da biopirataria no mundo!
Perda da biodiversidade e desequilibrio ecológico
O Brasil é o país que possui maior biodiversidade no mundo. Cerca de 22% das espécies nativas do mundo estão aqui. Assim sendo, o país é vítima constante da biopirataria. Cerca de 15% do total da biopirataria no mundo acontece com recursos naturais brasileiros.
Segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, 38 milhões de animais da Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e regiões semiáridas do Nordeste são capturados e vendidos ilegalmente, gerando cerca de 1 bilhão de dólares por ano.
A maior parte dos animais traficados dentro do território brasileiro saem do Norte, Nordeste e Centro Oeste e vão parar na região Sudeste. 70% dos animais são destinados ao mercado interno e a maior parte deles tem como fim a domesticação.
Animais são adquiridos por cientistas para desenvolver cosméticos e medicamentos. Zoológicos e colecionadores também traficam animais para fins lucrativos sem nenhum tipo de autorização. Muitas vezes não há a finalidade de desenvolver vacinas, muitas pessoas simplesmente querem ter os bichos em cativeiros.
Você sabia que existem mais tigres em cativeiro nos EUA do que soltos no mundo?
Uma das consequências dessas atividades é o desequilíbrio da cadeia alimentar, pois cada animal possui sua função ecológica. Bons exemplos para ilustrar são a impossibilidade de haver polinização e dispersão de sementes por insetos. O tráfico de plantas gera a perda de capacidade de haver sequestro de carbono.
A própria retirada dos animais de seus habitats naturais já é um ato de crueldade!
Outras formas de biopirataria são a captura de animais silvestres para a venda em Pet Shops e a morte para a confecção de adornos e artesanato a partir de penas, couro e pele.
Os animais capturados são frequentemente submetidos a maus tratos e péssimas condições de vida. Eles ficam muito tempo sem água, comida e ficam em lugares apertados e quentes. É muito comum haver mortes nessas circunstâncias.
Alguns exemplos famosos de espécies contrabandeadas são: Arara-Azul, Jaguatirica, Papagaio-da-cara-roxa, Mico-Leão-Dourado, Jiboia, Tucano e Cascavel.
Muitos animais contrabandeados também possuem doenças além de serem hospedeiros de vírus que acabam sendo transmitidos aos humanos.
Extinção de espécies
Espécies em extinção acabam ficando em um estado mais crítico ainda pois são alvos dos traficantes, uma vez que são vendidos a preços maiores. Quanto mais raro, vale mais. É um ciclo.
Um exemplo conhecido é o da Arara Azul (a maioria dos animais contrabandeados são aves).
E não são apenas animais que entram em extinção, mas também orquídeas, corais e madeiras nobres, por exemplo.
Legislação
No Brasil a prática não é tipificada como ilícita criminal, mas apenas administrativa com aplicação de multas. Ou seja, não há fiscalização nem punições severas. Além do combate a captura e venda de animais é muito importante que também haja conscientização da população para não comprarem animais silvestres vendidos de forma irregular. Afinal, sem demanda não há comércio.
Mesmo tendo assinado um documento na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que visava a proteção da natureza e sociedade contra a biopirataria, o governo brasileiro ainda é lento para implantar medidas inibidoras mais contundentes.
A legislação é muito importante não apenas para combater o tráfico de recursos naturais em si. A biopirataria envolve traficantes que estão vinculados a assassinatos, suborno, crime organizado e uma série de práticas que desestabilizam famílias, comunidades e a segurança nacional.
Antigamente os animais eram muito comercializados em feiras em das pequenas cidades. Atualmente um dos fatores que recentemente tem dificultado o combate a biopirataria é o fato do comércio acontecer na Internet (tanto em redes sociais quanto em grupos de whatsapp).
Prejuízos socioeconômicos e casos
Não se trata apenas do tráfico de animais. Muitos cientistas estrangeiros são enviados para o território brasileiro para se apropriarem do conhecimento de povos nativos e de seus recursos sem nenhuma forma de autorização ou pagamento. Ou seja, o que acontece é que a comercialização de produtos gera milhões em lucros que não são repartidos de forma justa para o detentor do recurso e para as comunidades tradicionais.
Ainda falando em lucros, a falta de emprego e baixos níveis de educação formal em algumas regiões do Brasil estimula a prática da biopirataria pois esta é capaz de fornecer renda às famílias envolvidas.
Um dos casos mais famosos foi a exploração do Pau Brasil pelos portugueses durante a colonização do território brasileiro. Essa espécie era usada pelos indígenas para a fabricação de corantes, mas os colonizadores as levaram para a Europa e fizeram uso do conhecimento indígena em relação a como extrair o pigmento vermelho da árvore. A exploração foi tão intensa que a espécie entrou em extinção. Este é apenas um exemplo de exploração do conhecimento indígena, existem diversos estrangeiros que se apropriam deste para a fabricação de cosméticos e remédios sem nenhuma contrapartida para aos índios.
Outro caso famoso foi o das seringueiras nativas da Amazônia, espécie da qual é produzido o látex para fabricação de borracha. O Brasil era líder na fabricação de borracha, até que em 1876 um explorador inglês contrabandeou cerca de 70 mil sementes e plantou na Malásia. Em pouco tempo esse país se tornou líder no segmento, afetando catastroficamente o mercado de borracha no Brasil.
Nos últimos anos, um laboratório americano retirou substâncias de um sapo nativo do Equador e manipulou um anestésico que supera a morfina. O laboratório lucrou milhões enquanto o Equador não obteve nenhum tipo de receita.
Reinclusão de animais ao ecossistema
Felizmente, existem programas de apreensão e reinclusão de animais ao ecossistema. Essas entidades contam com técnicos para primeiros socorros durante as apreensões, procedimentos eficientes para devolver ao ecossistema, áreas credenciadas e espalhadas por todos os biomas para receber e monitorar e aferir resultados.
Como denunciar o tráfico de animais?
O controle da fiscalização de animais silvestres no Brasil é feito pelo IBAMA e pela Polícia Militar Ambiental.
Em caso de suspeita de tráfico de animais, entre em contato com a Linha Verde do IBAMA (0800 61 8080).
Caso você presencie algum tipo de tráfico de animais, tente adquirir o máximo de informações possíveis sobre o ato, como placa de veículos, locais do comércio, quem compra e quem vende, quais são os animais, etc.
Referências
ecycle.com.br/biopirataria/
megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119767-biopirataria-a-pratica-que-destroi-o-brasil-ha-seculos.htm
brasilescola.uol.com.br/geografia/biopirataria-1.htm
ecycle.com.br/trafico-de-animais/
uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/trafico-no-brasil-tira-por-ano-35-milhoes-de-animais-da-floresta-e-gira-r-3-bilhoes/#end-card
tvbrasil.ebc.com.br/caminhos-da-reportagem/2021/02/trafico-de-animais-um-rastro-de-violencia
icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/4905-trafico-de-animais-contribui-para-extincao-de-especies
faunanews.com.br/trafico-de-animais/